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Crise pode ser oportunidade para carreira


Momento é bom para ampliar campo de atuação e mostrar valor pessoal

É geralmente no começo de cada ano que planejamentos de longo prazo são revistos e alinhados conforme a realidade do momento. Quem tem um planejamento de carreira deve, portanto, considerar os recentes acontecimentos econômicos que afetam as finanças de empresas pelo mundo afora para adequar sua trajetória profissional. Apesar de a crise ter começado com o capital especulativo, sem, necessariamente, vínculos com a realidade de mercado, muitas corporações já sentiram efeitos e enxugam custos, inclusive com demissões.

"Embora a crise exista, ela mostra muito maior quando se coloca uma lente sobre ela. Isso afeta os rumos que são tomados na carreira", contextualiza o professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), José Roberto Heloani, que atua na área de psicologia do trabalho e comportamento organizacional. Ele se refere aos aspectos psicológicos da crise sobre o profissional. "Mesmo que a crise não tenha a dimensão que a mídia passa, há um efeito bastante grave na nossa psique e na nossa identidade profissional", salienta ele.

Em termos, Heloani afirma que não importa se há dados empíricos para comprovar a ameaça, pois o efeito objetivo seria o menos importante. "Os profissionais questionam suas competências e isso provoca uma angústia latente, que afeta sua segurança. Por isso, a tendência é a busca por estabilidade. As pessoas superdimensionam o risco", explica o professor. Para ele, isso acontece porque as pessoas enxergam seu potencial, inclusive de empregabilidade, por meio de terceiros e reagem às observações das outras pessoas. "E o olhar dos outros é desconfiado, investigativo", ressalta Heloani.

Rosemary Bethancourt, consultora de recursos humanos da Catho Online concorda com os efeitos psicológicos da crise apontados por Heloani. "As empresas desaceleraram um pouco nesse início de ano. Nem por que a crise já chegou, mas por receio". No entanto, ela ressalva: "Não é por isso que as pessoas devem parar. Isso vai passar e o mercado e a carreira vão continuar. E, no momento em que estabilizar, não se pode estar com a carreira parada", alerta ela. Seria esse o momento de mostrar seus diferenciais para a empresa. "O profissional tem de mostrar porque a empresa deve confiar nele e ousar para trazer benefícios à empresa", explica Rosemary.

A opinião é semelhante à de Clara Linhares, professora do Ibmec de Minas Gerais, que recomenda aos profissionais atentarem para as novas modalidades de trabalho. "Algumas empresas fecham oportunidades, mas buscam pessoas arrojadas, que aceitem contratações temporárias, como terceiros", exemplifica Clara. Ela destaca que o profissional não deve se submeter totalmente à empresa, mas assumir o comando da carreira. "Num momento de crise, jamais entregue a administração de sua carreira para a empresa. É importante avaliar o que ela vai oferecer para a sua vida profissional", afirma ela. "Trabalhar numa empresa legal e ter salário digno é conseqüência de tomar as rédeas da carreira", assegura ela ao afirmar que, especialmente num momento de crise, as empresas não querem a responsabilidade de gerenciar também as carreiras de seus funcionários.

Nesse mesmo contexto, José Roberto Heloani, da FGV, alerta para o risco de se tornar refém da organização para a qual se trabalha. "O profissional acredita que exigir direitos é sinônimo de menor empregabilidade e, nesse caso, a legislação trabalhista passa a ser apenas um adorno", explica ele. Uma das conseqüências seria a redução da importância do projeto de carreira. "Quando o profissional percebe que seu projeto de carreira depende de terceiros, ele abre mão desse projeto. Torna-se inseguro e imediatista e compromete a qualidade do seu trabalho", declara.

Em contrapartida, Renato Grinberg, diretor-geral do site Trabalhando.com.br, acha pouco provável haver prejuízos aos direitos trabalhistas provocados pelas empresas. "O Brasil é tão protecionista com o empregado que acho difícil haver abusos", aposta ele. A força das leis trabalhistas, no entanto, não pode ser sobreposta à dedicação necessária para superar o momento de incertezas, conforme analisa Rosemary. "É necessário preparar-se para trabalhar mais, pois pessoas da equipe podem ser demitidas e o trabalho vai acumular. O profissional tem de administrar a frustração de não receber mais por isso. Quando a crise passar, pode ser que ele consiga uma promoção em reconhecimento pelo trabalho feito nesse momento de crise", diz ela.

Profissionais generalistas

A especialização restrita à área de atuação, principalmente num momento de crise, pode não ser o melhor caminho para o profissional que quer se manter no mercado, segundo explica Clara Linhares, do Ibmec-MG. "Cada vez mais buscamos profissionais generalistas, que são mais versáteis em momentos de crise". É essencial considerar tanto o contexto econômico quanto o da empresa ao escolher um curso neste momento. "Perceber qual o seu papel dentro da organização para a qual se trabalha é tão ou mais importante que a qualificação, pois há o risco de investir em algo que, para a empresa, é irrelevante", alerta Heloani. "Os cursos têm de ter a ver com o profissional, mas são mais recomendáveis aqueles que agregam valor à empresa", acrescenta Gribnerg.

Claro que, ao buscar qualificação, é arriscado fugir completamente da área de atuação. "A primeira coisa a fazer é descobrir onde estão suas competências. Não adianta buscar áreas que demandam profissionais sem ter vocação. A aptidão e as competências têm de ser levadas em conta", afirma Grinberg. E, antes de escolher um curso seria essencial considerar o panorama econômico. Isso é ainda mais importante para profissionais desempregados, que, segundo Rosemary, também precisam pensar em formas de melhorar o currículo. "Tem de continuar a investir em cursos e ficar atento ao que acontece no mercado. Pode ser que não consiga uma pós-graduação, devido ao custo, mas há cursos mais rápidos", afirma ela. A recomendação é reforçada por Grinberg, que alerta sobre a necessidade de dedicação à empresa nesse momento. "O profissional que está empregado deveria esperar para fazer um curso mais intensivo. Deve dedicar algum tempo para a empresa e para eventualidades", recomenda ele.

O empreendedorismo é ainda mais valorizado nesse momento, explica Grinberg. "Um empregado padrão espera as coisas acontecerem. Um empreendedor, antes do problema acontecer, busca a solução. Um diretor pró-ativo, por exemplo, não espera o dinheiro acabar para buscar alternativas, mas busca soluções antes mesmo de ser cobrado por isso". Para tanto, ele reforça, a diversificação da área de atuação é essencial. "O exemplo vale para profissionais que não necessariamente estão envolvidos com gestão de custos", explica ele.

Por Bruno Loturco

Comentários

Rodobens disse…
boa noite felipe, tentei ler seu ultimo post, mas nao sei se o problema e no meu navegador, mas o texto fica cortado do lado direito.
abraco e continue divulgando seus conhecimentos!

ralf

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