Uma sala de cirurgia é um ambiente maximamente controlado. Tudo ali é pensado para, digamos, não dar chance ao azar. Há alternativas previstas para eventualidades que possam acontecer -equipamentos em standby, protocolos alternativos se algo complicar etc. O acaso está o máximo possível sob controle, digamos assim.
Portanto, se um certo cirurgião começa a obter resultados consistentemente melhores que seus colegas para a mesma cirurgia, realizada naquele mesmo ambiente, seguindo os mesmos procedimentos, você pode jurar: “esse cara sabe algo que os demais não sabem. Seu sucesso está vindo de algo que o diferencia, vamos aprender com ele o que é”.
Agora, imagine milhares de cirurgiões competentes, usando os procedimentos que bem entendem. Nada de protocolos, nada de redundâncias, nada de tentar prevenir o acaso,nada de metodologias muito específicas.Certamente haveria um que teria melhor resultado por pura chance. Mesmo que tivesse talento (como tem), não teria sido isso a causa de seu sucesso. Se fosse possível repetir o experimento é praticamente certo que outro cirurgião iria ficar no topo (se o primeiro repetisse a façanha, aí sim, poderíamos estar razoavelmente certos do “algo mais”).
Agora, suponha que os resultados do experimento com aquele cirurgião que se destacou dos demais por sorte, tenham sido divulgados intensamente. Ele, então, graças à publicidade, começaria a ser mais procurado, e, como é competente, estabeleceria uma excelente reputação e veria sua clientela aumentar. Sua reputação é merecida, mas teve origem no acaso, não em qualquer talento acima da média.
Não estou dizendo que Bill Gates não tem talento, estou dizendo que numa grande população de empreendedores competentes, ao acaso, é praticamente certo que apareça alguém como Bill Gates, por pura sorte. Ronaldinho Gaúcho é a mesma coisa: numa população enorme de jovens talentosos (milhares e milhares pelo mundo a fora), um ou outro terá a chance de ser notado. Como tem talento,sua careira vai decolar.
Bill Gates não planejou ser Bill Gates.
Ele é um cara preparado, inteligente, empreendedor brilhante, mas será o melhor? Seu sucesso veio por mérito singular? Não, não veio. Veio por acaso (todo mundo usa Windows porque todo mundo usa Windows, se você quiser sair desse padrão corre um risco que a maior parte das pessoas ainda prefere não correr.O sistema Apple é objetivamante melhor do que o Windows desde sempre, mas é um perdedor).
Bill Gates ajudou o acaso com seu preparo; se não tivesse preparo não teria tido sucesso, mas ele não foi a causa de seu sucesso.Na turbulência da época em que tomou as decisões que levariam ao sucesso, ninguém poderia saber que elas eram as decisões certas. Só fica claro depois, mas dá sempre a ilusão de que já estava definido antes. Não estava. Foi sorte.
Obs: a história que levou ao sucesso da Microsoft é um primor. Várias circunstâncias que Bill Gates não controlava acabaram levando a IBM a contratar sua empresa para desenvolver o sistema operacional de seus PCs. Ele nem queria o contrato, indicara um cara chamado Gary Kidall,famoso no underground dos hobbystas. Esse cara,na hora agá, resolveu faltar à reunião que definiria tudo para ir “andar de balão”. A IBM, frustrada, voltou a Bill Gates. Ele tinha indicado o cara e se sentiu obrigado a segurar o pepino. Comprou, às pressas, por US$50mil, um software rudimentar chamado Quick & Dirty Operational System (Q-DOS) de uma empresinha de Seattle, modificou-o e repassou-o à IBM com o nome de PC-DOS. Numa jogada fortuita, no final das negociações, Gates obteve a concordância da IBM para que a Microsoft pudesse vender uma versão modificada desse sistema para quem ela quisesse. A IBM nem ligou.Não estava interessada em software.O resto é a história que nos contam, de como Bill Gates com seu olhar de lince,e sua mente “muito à frente de seu tempo”, previu, naquele dia, naquela hora, tudo o que iria acontecer na indústria de tecnologia pelas próximas décadas, e se tornou o homem mais rico do mundo. Hahahaha..
Por Clemente Nobrega
Portanto, se um certo cirurgião começa a obter resultados consistentemente melhores que seus colegas para a mesma cirurgia, realizada naquele mesmo ambiente, seguindo os mesmos procedimentos, você pode jurar: “esse cara sabe algo que os demais não sabem. Seu sucesso está vindo de algo que o diferencia, vamos aprender com ele o que é”.
Agora, imagine milhares de cirurgiões competentes, usando os procedimentos que bem entendem. Nada de protocolos, nada de redundâncias, nada de tentar prevenir o acaso,nada de metodologias muito específicas.Certamente haveria um que teria melhor resultado por pura chance. Mesmo que tivesse talento (como tem), não teria sido isso a causa de seu sucesso. Se fosse possível repetir o experimento é praticamente certo que outro cirurgião iria ficar no topo (se o primeiro repetisse a façanha, aí sim, poderíamos estar razoavelmente certos do “algo mais”).
Agora, suponha que os resultados do experimento com aquele cirurgião que se destacou dos demais por sorte, tenham sido divulgados intensamente. Ele, então, graças à publicidade, começaria a ser mais procurado, e, como é competente, estabeleceria uma excelente reputação e veria sua clientela aumentar. Sua reputação é merecida, mas teve origem no acaso, não em qualquer talento acima da média.
Não estou dizendo que Bill Gates não tem talento, estou dizendo que numa grande população de empreendedores competentes, ao acaso, é praticamente certo que apareça alguém como Bill Gates, por pura sorte. Ronaldinho Gaúcho é a mesma coisa: numa população enorme de jovens talentosos (milhares e milhares pelo mundo a fora), um ou outro terá a chance de ser notado. Como tem talento,sua careira vai decolar.
Bill Gates não planejou ser Bill Gates.
Ele é um cara preparado, inteligente, empreendedor brilhante, mas será o melhor? Seu sucesso veio por mérito singular? Não, não veio. Veio por acaso (todo mundo usa Windows porque todo mundo usa Windows, se você quiser sair desse padrão corre um risco que a maior parte das pessoas ainda prefere não correr.O sistema Apple é objetivamante melhor do que o Windows desde sempre, mas é um perdedor).
Bill Gates ajudou o acaso com seu preparo; se não tivesse preparo não teria tido sucesso, mas ele não foi a causa de seu sucesso.Na turbulência da época em que tomou as decisões que levariam ao sucesso, ninguém poderia saber que elas eram as decisões certas. Só fica claro depois, mas dá sempre a ilusão de que já estava definido antes. Não estava. Foi sorte.
Obs: a história que levou ao sucesso da Microsoft é um primor. Várias circunstâncias que Bill Gates não controlava acabaram levando a IBM a contratar sua empresa para desenvolver o sistema operacional de seus PCs. Ele nem queria o contrato, indicara um cara chamado Gary Kidall,famoso no underground dos hobbystas. Esse cara,na hora agá, resolveu faltar à reunião que definiria tudo para ir “andar de balão”. A IBM, frustrada, voltou a Bill Gates. Ele tinha indicado o cara e se sentiu obrigado a segurar o pepino. Comprou, às pressas, por US$50mil, um software rudimentar chamado Quick & Dirty Operational System (Q-DOS) de uma empresinha de Seattle, modificou-o e repassou-o à IBM com o nome de PC-DOS. Numa jogada fortuita, no final das negociações, Gates obteve a concordância da IBM para que a Microsoft pudesse vender uma versão modificada desse sistema para quem ela quisesse. A IBM nem ligou.Não estava interessada em software.O resto é a história que nos contam, de como Bill Gates com seu olhar de lince,e sua mente “muito à frente de seu tempo”, previu, naquele dia, naquela hora, tudo o que iria acontecer na indústria de tecnologia pelas próximas décadas, e se tornou o homem mais rico do mundo. Hahahaha..
Por Clemente Nobrega
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